Os vampiros das séries de televisão e novelas surgem para agradar o gosto dos jovens, loucos por quem ameace sugar-lhes o sangue, porque é a imagem do herói predador que cumpre uma função simbólica e imaginária, importante na vida de cada um de nós. A representação de vampiros diz mais do ser humano do que sobre os próprios vampiros que, como qualquer mito, nascem da imaginação humana.
Pensar que poderíamos nos tornar vampiros não existe. Vejamos como. Uma das características destes personagens é a de não se verem em espelhos. Se não se vêem em espelhos não são imagens. A ficção do vampiro mostra-nos que os seres humanos precisam inventar sentidos que se reflitam no espelho, criando assim uma imagem que nos represente.
Os vampiros “vegetarianos” da série Crepúsculo, da escritora americana Stephenie Meyer, mostram muito bem a condição de alguns humanos do ser assassino e sedento, no qual o ser humano projetou o seu desejo de sugar o sangue e, assim, a vida do outro. Seres humanos amam vampiros por puro amor a si mesmos.
Enquanto o vampiro de Stephanie Meyer diz: “sou vampiro, mas gostaria de ser humano”, nós diríamos assim: “sou humano, mas gostaria de ser vampiro”. A relação entre Edward Cullen, o “protagonista” de Crepúsculo, e sua amada Bella é exatamente esta.
O casal nos encanta porque mostra nele a realização de um desejo humano ideal, que jovens gostariam de realizar. O vampiro se humaniza ao não atacar a moça, a moça sem preconceitos – e, claro, perdida de amores pelo superpartido que ele é – vê no vampiro a chance de se tornar vampira.
Na delicada Bella vemos a nós mesmos, que, ainda humanos, não valorizamos a vida simplesmente humana que o vampiro valoriza, mas muito mais o amor e a promessa de eternidade que ele vem oferecer. Nós entendemos o amor assim. Não é exagerado dizer que Edward é o espelho de uma geração que teria no amor a ideia do reconhecimento pessoal. Ele é muito menos um vampiro do que um adolescente em conflito com a sua própria natureza. Ele é muito mais um ser humano que se entende como diferente, com problemas pessoais que ele não tem o mínimo desejo de ter.
Ir. Márcio Issler